Tapuia do Carretão

Tapuia Carretao retangulo gif
Autora do verbete: Eunice Tapuia


Identificação de Autodenominação
 

Antes de mais nada é preciso esclarecer que o nome Tapuia ao longo da história foi comumente usado para designar indígenas que não aceitavam a chamada “pacificação”, mais comumente conhecidos como “os rebeldes, que não dá pra serem amassados”. Logo este nome foi dado aos indígenas do Aldeamento Carretão pelas pessoas das redondenzas, pois para eles estes não eram não indigenas e também não eram indígenas pois não possuiam os traços considerados pela sociedade local como traços identitários de indigenas-  cumpre esclarecer que dizer que este povo não era indígena era a maneira de legitimar o uso de suas terras. Portanto havia sempre uma dualidade: hora não era não indigena, ora também não era não indigena a depender da convêniencia para a sociedade local.

Como os povos indígenas formdores desse povo são povos macro-jê, e eram varios povos indígenas além dos não indígenas e negros,o termo Tapuia foi resignificado como nome do povo e o “do Carretão” para diferenciar de outros povos Tapuia do Brasil. Assim, atualmente se autodenominam : Povo Indígena Tapuia do Carretão.

 

Língua

O Português Tapuia é o resultado da miscigenação histórica e cultural desse povo, tendo em vista diferentes povos indígenas dos povos formadores desse povo, além também de influências do tupi que influênciou muito o português brasileiro, e por consequencia também o Português Tapuia que possui também possui muito das línguas africanas dado ao casamento das duas matriarcas com os negros.

“ ...Nota-se, por fim, que o Português Tapuia não é Karajá, não é Xavante, nem é Caiapó. Ou seja, os Tapuia não podem falar a língua de um povo somente. O povo Tapuia é Tapuia, isto é, formado por negros, brancos, Karajá, Xavante e Caiapó. Da mesma forma, o português Tapuia é uma língua Tapuia.” (RODRIGUES, 2014, p.15)

Assim, a língua é o que o povo é, e este povo sofreu privações culturais, sociais,... e também linguisticamente, e no seu trabalho de graduação RODRIGUES afirma:

A língua materna desse povo indígena é o seu português étnico, constituido de uma estrutura gramatical e de uma base lexical românica, sem dúvida, mas significativamente modificadas pelo colorido e pela melodia das línguas indígenas Macro-Jê faladas pelos povos indígenas que participaram da formação do Povo Tapuia.” (RODRIGUES, 2014)

 

Demografia

Assim como acontecem com quase todos os povos indígenas, é muito difícil dizer o número exato de um povo vivendo em território devido ao fluxo de saída e retorno, uma vez que quando saí, a não ser que seja um estudante que sai para cursar faculdade, se sai a família inteira e não somente uma ou duas pessoas.

O número de integrantes desse povo tem aumentado, mas cumpre dizer que o número fora permanece mais que os que estão vivendo no território. E os números divergem até mesmo entre o Censo institucionais: SESAI, CIMI e FUNAI.

O Censo de 2022 diz que são cerca de 220 indígenas vivendo no território (IBGE,2022). Outras fontes dizem ser 268 ou 230 pessoas com 56 famílias.

Vejamos os gráficos de informativos até 2009:

Tabela Tapuia do Carretão

 Gráfico Tapuia do Carretão

 

Aspectos Históricos

São descendente dos indígenas que viveram no Aldeamento Pedro III, fundado em 1788, no Vale do São Patrício.

Esse aldeamento surgiu dentro da política do Diretório dos Índios (1757) e das Instruções de 1771, que tinham como objetivo catequizar e “civilizar” os povos indígenas da região.” (NAZÁRIO, 2016).

No local foram reunidos indígenas de diferentes povos, principalmente A’we Uptabi (Xavante), Akwê (Xerente),Mebêngôkre (Kayapó), e Iny (Karajá/Javaé) o que gerou um intenso contato cultural e linguístico cheio de violências em todas as aréas desse povo. Com o objetivo de apagar traços indígenas, o casamento interetnico era muito incentivado e por isso, houve também a miscigenação com negros vindos das fazendas próximas,e não indígenas da região, dando origem assim ao povo que hoje é conhecido como Tapuia do Carretão. Nesse processo, as línguas indígenas foram sendo substituídas pelo português, resultado das políticas coloniais que impunham o abandono das línguas nativas.

“Durante os séculos XVIII e XIX, os Tapuia passaram por um processo de desindianização e invisibilização, mas permaneceram na região do antigo aldeamento, mantendo seus vínculos familiares e comunitários. No século XX, enfrentaram invasões e conflitos fundiários com fazendeiros e posseiros, agravados pela ocupação do interior de Goiás.” (NAZÁRIO, 2016)

No ano de 1942, o último capitão Simeão Borges de Aguiar saiu do território com as anciãs Maria Catarina, Arcante, Benedito e Bento (criança na época) sairam para se encontrar com o presidente no Rio de Janeiro, mas em Goiânia foram recebidos pelo então governador Pedro Ludovico Teixeira, fizeram a denuncia dessas invasões, mas somente no ano de 1948 no governo de Coimbra Bueno que o território foi demarcardo com significativa redução, não levando em conta a sede do antigo Aldeamento nem tampouco as doze léguas  em quadra que os velhos tanto lutavam para protegererem, além da demarcação terem sido feitas em forma de glebas não contínua.

Somente em 1979 o grupo teve o primeiro contato com a FUNAI, quando D. Olímpia e seu filho foram a Brasília em busca de apoio. A partir desse contato, a antropóloga Rita Heloisa de Almeida  comprovou a descendência indígena do grupo e sua ligação com o antigo Aldeamento Pedro III, o que deu início ao processo de reconhecimento oficial.” (NAZÁRIO, 2016)

Mesmo após esse reconhecimento, a luta pela terra continuou e ainda permanece, a desintrução dos posseiros do território demarcado e homologação só evio a contecer em 1999, após décadas de resistência. Durante esse processo, os Tapuia contaram com o apoioda Diocese de Rubiataba na figura do Bispo Diosesano Dom Carlinhos que acionou o CIMI, da FUNAI da PUC-Goiás.

Atualmente, o povo Tapuia segue reafirmando sua identidade por meio da educação intercultural, da valorização de sua memória e do fortalecimento das relações com outros povos indígenas. Sua trajetória é marcada por luta, resistência e reconstrução identitária, resultado de séculos de contato, opressão e perseverança.


Situação da Terra Indígena

Território Tapuia do Carretão
Território e Mapas

 

O povo Indígena Tapuia do Carretão, vivem no território demarcado e homologado da Aldeia Carretão, com duas glebas não contínua denominadas Carretão I e II, ou gleba I e II, localizada entre os municípios de Rubiataba e Nova América (GO), lutam ainda pela demarcação do seu território ancestral, essencial a continuidade da identidade desse povo uma vez que é o lugar onde estão os seus cemitérios (todos os cemitérios Tapuia ficaram de fora dessa demarcação), o território de caça, pesca e coleta. Este território abrangem os municípios de Nova América, Rubiataba, Morro Agudo de Goiás, Crixás e Araguapaz.

A Terra Indígena, demarcada pela segunda vez em 1984 ( a primeira conteceu em 1948) com seus limites reduzidos, foi dividida em duas glebas não contínuas: a Gleba 1, subdividida em Gleba 1-A, porção norte, localizada no municipio de Nova América e Gleba 1-B, porção sul, localizada no municipio de Rubiataba, totalizando 1.666 hectares e a Gleba 2, localizada também no municipio de Nova América, com 77 hectares. As duas glebas perfazem um total de 1.743 hectares.(PLANO DE GESTÃO TERRITORIAL,2020)

Fica a 280 km de Goiânia e 380 Km de Brasília, na mesorregião do Centro Goiano, no Vale do São Patrício Goiano, tendo como Rio o Rio Carretão, conhecido pelos não indígenas como Rio São Patrício.

 

Modos de Organização e Lideranças

Este povo como organização politica baseada nas decisões coletivas, escutando e valorizando a voz dos/das anciões e anciãs e mestres/as dos saberes do povo, além disso possui cacique, vice cacique e uma Associação denominada Associação dos Indios Tapuia do Carretão-AITCAR ( o termo índio da Associação será mudado para índigenas), ainda não foi feito porque a Associação estava passando por momento de regularização documental, o que só foi finalizada recentemente- a última e primeira presidenta (mulher) da Associação faleceu  dia 13 de novembro de 2024. Além disso, este povo possui importantes lideranças que também fazem parte da organização politica, a seber: as mulheres da Casa de Farinha Tapuia, o vereador Cleiton Tapuia (primeiro vereador indígena no estado de Goiás), Eunice Pirkodi Tapuia – primeira doutora de indígenas de Goiás e professora adjunta da Universidade Federal de Goiás.

Existem dois Conselhos na Comunidade: o Conselho Simão Borges do Colégio estadual Indígena Cacique José Borges que trata das questões da educação na comunidade e o Conselho Local de Saúde que trata dos assuntos da saúde indígena juntamente com a SESAI e a prefeitura de Nova América.


Fontes e Referências - verbete Tapuia do Carretão